26 julho 2007

Quem eram os puritanos?

O Puritanismo foi um movimento que surgiu dentro do protestantismo britânico no final do século 16. A Inglaterra estava separada da submissão papal, mas não da doutrina, liturgia, e ética católica. O rei inglês Henrique VIII por motivos pessoais, e não por convicção teológica liderou uma reforma política no Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de Gales) que defendia o rompimento com a Igreja Católica Romana, vindo a originar-se a Igreja Anglicana. O monarca inglês faleceu e o seu filho, Eduardo VI, tornou-se rei em seu lugar. O jovem regente inglês possuía conselheiros influenciados pela Reforma protestante. Alguns teólogos e professores foram convidados para liderar a Reforma na Inglaterra. Entretanto, este projeto não foi adiante, pois o novo rei veio a falecer prematuramente. A sua irmã mais velha, Maria Tudor, a sangüinária, assumiu o trono ordenando a morte de todos os protestantes, prendendo e expulsando muitos outros do Reino Unido.

Em 1559, Elizabeth sucedeu à sua meia-irmã Maria Tudor. A nova rainha da Inglaterra era simpatizante da Reforma. Ainda em 1559, solicitou a revisão do Livro Comum de Oração, e editou em 1562, os 39 Artigos de Fé[1] como padrão doutrinário da Igreja Anglicana.[2] Autorizou a volta dos reformadores ingleses exilados. Todavia, os que retornaram estavam insatisfeitos com a lenta e parcial Reforma eclesiástica que Elizabeth estava realizando. Justo L. González comenta que os que foram expulsos “trouxeram consigo fortes convicções calvinistas, de modo que o Calvinismo se estendeu por todo o país.”[3] Eles haviam contemplado o que os princípios da Reforma poderiam fazer em outros países, agora estavam comprometidos em aplicá-los em sua terra natal.

Os que defendiam que a Igreja Anglicana carecia duma completa Reforma foram apelidados jocosamente de "puritanos". De fato, os puritanos acreditavam que a igreja inglesa necessitava ser purificada dos resquícios do romanismo. Eles clamavam por pureza teológica, litúrgica, e moral! Henrique VIII embora discordasse da Igreja Católica acerca dos seus divórcios, ele morreu sustentando o título de Defensor da fé Católica. Mas, os puritanos também ansiavam por mudanças litúrgicas, pois, mesmo a Inglaterra se declarando protestante, a missa ainda era rezada em latim, eram usadas as vestimentas clericais, velas nos altares, e o calendário litúrgico e as imagens de santos eram preservadas. Era uma incoerente ofensa aos reformadores ingleses.

A começar pela liderança da Igreja, a prática do evangelho não estava sendo observada. Os puritanos exigiam não apenas mudanças externas, religiosas e políticas, mas mudança de valores, manifesto numa ética que agradasse a Deus, de conformidade com a Palavra de Deus. Foi por causa deste último ponto que o apelido puritano tornou-se mais conhecido. Eles eram considerados puros demais, porque queriam ter uma vida cristã coerente com a Escritura!Infelizmente, uma caricatura horrível é feita deste movimento. Não poucas vezes os puritanos são criticados e mencionados com desdenho; entretanto, isto apenas evidencia a ignorância acerca da grandiosidade da obra e esforço destes homens e mulheres. Muitos perderam a sua vida por serem zelosos com o estudo e ensino das Escrituras Sagradas, por viver consistentemente o puro evangelho de Cristo![4]

O presbiterianismo é herdeiro direto deste movimento. Os Padrões de Fé de Westminster são produto da melhor erudição e piedade puritana do século 17. Os presbiterianos que migraram para os EUA, eram todos puritanos. A oração fervorosa, o culto sóbrio e equilibrado, o estudo da Escritura e a pregação da Palavra de Deus, tanto pelo ensino como pela prática de uma vida simples, eram marcas que distinguiam estes homens, que influenciaram o Cristianismo europeu e norte-americano, e que chegou até ao Brasil, através do missionário Rev. Ashbel G. Simonton.

Notas:
[1] Este documento doutrinário é essencialmente calvinista. Os 39 Artigos de Fé serviram para preparar a abertura de um processo de divulgação do Calvinismo na Igreja Anglicana que culminaria na Assembléia de Westminster (1643-1648), que produziu a Confissão de Fé e os Catecismos Breve e Maior. B.B. Warfield, Studies in Theology in: The Works of. B.B. Warfield, pp. 483-511.
[2] A maioria dos clérigos anglicanos relutam, ainda hoje, em adotar uma posição de consistência teologicamente calvinista. Em geral, os teólogos anglicanos adotam a Via Media, ou seja, eles tentam conciliar a teologia romana com a protestante, e formar um sistema doutrinário sincretista. Veja E.A. Litton, Introduction to Dogmatic Theology (London, James Clark &CO, LTD, 3ªed., 1960), pág. xi-xv. A liturgia anglicana ainda segue o The Book of Common Prayer (Livro Comum de Oração), embora dentro da Comunhão Anglicana cada Província é livre para alterar e adaptá-lo.
[3] Justo González, Visão Panorâmica da História da Igreja (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1998), p. 70.
[4] Leitura indispensável sobre este movimento são as obras:
1. D.M. Lloyd-Jones, Os Puritanos - suas origens e seus sucessores (PES).
2. J.I. Packer, Entre os Gigantes de Deus - uma visão puritana da vida cristã (Editora Fiel).
3. Leland Ryken, Santos no Mundo - os puritanos como realmente eram (Editora Fiel).

30 junho 2007

O que você está fazendo?

Por quê não desenvolvemos mais? Por quê não crescemos mais? Por quê não nos estruturamos melhor? Por quê ainda não trocamos os bancos da nossa igreja? Por quê não abrimos novas congregações em PVH? Por quê não terminamos a construção do prédio de educação cristã? Por quê não começamos ainda a "projetar" a construção dum novo templo? Não é por falta de inicitava do Conselho, ou simplesmente por problemas financeiros. Estas perguntas tem a sua resposta no modo como cada um de nós participa da igreja.

Estamos vivendo um período de paz. Mas, quietude não significa prosperidade. O fato de não termos grandes conflitos externos de relacionamentos não significa que estamos progredindo. Acomodar é preparar-se para novos problemas! Não basta resolver ou amenizar as dificuldades que até aqui passamos. Se agora não nos prepararmos com objetivos definidos e não pensarmos como uma só mente e convergirmos as nossas forças no trabalho que necessita ser realizado, estaremos arando o terreno para que o inimigo semeie contenda. Pois "mente desocupada é oficina do diabo"!

Você faz parte deste corpo? Você se importa com a nossa igreja? Quer o seu bem estar e crescimento? Então, envolva-se! Primeiro, procure entender quem somos (veja no site www.ipportovelho.com); segundo, identifique-se e entre em alguma sociedade e ministério; terceiro, conheça os nossos projetos; quarto, seja fiel na sua contribuição de dízimos e ofertas; quinto, se você ainda não é membro converse com o pastor; sexto, se você participa de algum cargo, sociedade ou ministério, faça o melhor para a glória de Deus; sétimo, participe das reuniões e dê sugestões!

Existem muitas necessidades que precisam ser supridas! Carecemos de novos líderes treinados, mais discipuladores, aumentar a nossa arrecadação, programas de evangelização, ampliação dos ministérios e de um pastor auxiliar. Todas estas coisas exigem tempo e compromisso da unidade do corpo. Por isso, tem muita coisa para ser feita. Por exemplo, estamos reestruturando a nossa Escola Dominical e os grupos familiares. Estamos ampliando o número de discipuladores e precisamos de mais ainda! Treinamentos para liderança e para toda a nossa comunidade é oferecido todo fim de mês (veja o mural e programe-se). Você precisa urgentemente saber quem somos, o que estamos fazendo, e aonde estamos indo! Não cruze os braços. Se você quer que Deus faça grandes coisas, realize coisas grandes para Ele também, e espere os resultados!

02 junho 2007

O que ensinar aos filhos?

Deus nos dá um filho com a responsabilidade de prepará-lo para a vida. Mas, infelizmente muitos pais se preocupam em treinar os seus filhos apenas oferecendo-lhes uma boa educação escolar. Entretanto, esquecem, ou não percebem que além deste cuidado devem se esmerar em prover aos seus filhos um ensino que a sala de aula não se propõe a dar. Embora sabemos que existam professores que são realmente mestres convictos do seu chamado e não meros profissionais da educação, não podemos transferir para eles a responsabilidade de educar para uma vida aprovada por Deus.

O que devemos ensinar aos nossos filhos? Em primeiro lugar, ensine-os que eles nunca poderão esquecer o temor do Senhor. Os seus filhos são herdeiros das promessas da Aliança de Deus contigo. Eles devem ser lembrados disto todos os dias! Esta verdade deve fluir em suas orações, no culto doméstico, na conversa em família, na correção, na busca por solução dos conflitos e problemas: Deus nos ama porque tem uma Aliança conosco, e vocês são filhos da promessa. Os nossos filhos devem saber que o nosso Deus é soberano. Somos responsáveis por tudo o que fazemos, e Ele exige obediência incondicional à Sua santa Palavra. O supremo Deus está no controle sobre cada detalhe e em cada momento da nossa vida. As nossas crianças poderão crescer confiando na fidelidade do Senhor, pois mesmo quando coisas tristes e dolorosas acontecerem na família, eles deverão saber que Deus não deixou de nos amar, mas tudo estará cooperando para o nosso bem, porque Ele tem um amoroso propósito em nossa vida. Os nossos herdeiros com este ensino deverão estar preparados contra a incredulidade e amargura deste mundo tão perigoso. Desde pequeninos os nossos filhos deverão saber que Jesus nos quer bem.

Não podemos omitir aos nossos filhos a consciência de que eles são pecadores. O orgulho é o principal pecado que deverão travar uma batalha ferrenha durante toda a sua vida! Deverão aprender a confessar todos os seus vergonhosos pecados, com tristeza e decisão sincera de abandoná-lo. Os nossos filhos necessitam conhecer o que a Escritura diz do perigo do pecado em suas vidas. O seu maior temor nesta vida deverá ser pecar contra Deus. A iniqüidade deverá causar pavor em seus corações, pois pecar é desobedecer ao santo e justo Deus. Como pais precisamos orar para que os nossos filhos aprendam esta lição do modo menos doloroso possível.

Alimentar-se com a intimidade do Senhor é a uma das maiores riquezas que um servo pode aprender em sua vida. Os nossos filhos devem saber que a oração não é um ritual mecânico, pelo contrário, é a necessidade de se relacionar com o amado Deus. Conversar com Deus sabendo que Ele sempre aceita e ouve cada real necessidade que nos aflige. Ele sabe tudo o que está em nosso coração. Mas, Ele deseja o nosso relacionamento não apenas as nossas palavras. Não podemos modificar os planos de Deus com as nossas orações, mas somos transformados quando e enquanto oramos, porque Ele manifesta o Seu sábio poder para realizar o melhor segundo a Sua soberana vontade. O correto estudo da Palavra de Deus e a comunhão com o povo de Deus vacinarão os nossos filhos da sedução deste mundo.

Toda a nossa vida não deve ser guiada por interesses egoístas, por isso, os nosso filhos precisam saber que "nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si mesmo. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor" (Rm 14:7-8). Se nossos filhos forem alcançados pela misericórdia de Deus, isto será motivo de grande alegria. Mas, se além de salvos eles souberem viver uma vida cristã que em tudo honre ao Senhor e proveitosamente sirvam à Igreja de Cristo, a nossa alegria como pais será completa.

25 maio 2007

Quando perdemos alguém que amamos!

A morte é algo extremamente doloroso. Mesmo quando alguém morre em Cristo, e nisto temos a certeza de que nos veremos novamente no futuro, o consolo na dor somente vem do Senhor. Nem por isso a separação física se torna menos angustiante. O Rev. Nelson Lautert declarou que "a morte é sempre uma intervenção radical na vida, algo antinatural, que faz parar, que confronta a pessoa com a sua própria história e a coloca nua diante do seu Criador" (Revista Ultimato, jan-fev, 1999, p. 17). A pedagogia da morte nos ensina que: "o SENHOR nos deu, o SENHOR nos tomou; bendito seja o nome do SENHOR"(Jó 1:21b). Por isso, abrace, beije e dê flores, troque presentes e crie momentos que se tornarão em memoriais para todos. O pregador de Eclesiastes afirma enfaticamente que esta vida é tão passageira e, às vezes, não nos damos conta disso (Ec 3:20).

Perder é muito mais do que morrer. A morte é uma separação física, entretanto, a amargura e a inimizade produzem uma separação de relacionamentos. A ausência do abandono deixa um vazio insubstituível. A pior perda num relacionamento é quando perdemos o coração de quem se ama. Mas, infelizmente, algumas pessoas somente valorizam quando não têm mais. Mas, o perdão e o restruturar do relacionamento, cheios da misericórdia de Deus, podem restaurar o amor. Esta é a única perca que pode ser restituída. Entretanto, ela começa com humildade e arrependimento, e por fim produz felicidade e vida abundante.

Outra forma dolorosa de se perder alguém que amamos é pela enfermidade. Sabemos histórias de pessoas que desenvolveram enfermidades mentais que lhes anularam a personalidade. Conta-se que num hospital um jovem enfermeiro começou a perceber uma assídua visita de um senhor idoso. Então, o enfermeiro abordou o senhor e lhe perguntou quem ele tanto zelosamente ia ver todos os dias. A resposta daquele homem foi: "minha esposa". "O que ela tem", questionou o enfermeiro. Simpático, o senhor respondeu: "mal de alzaimer" (*uma doença que produz esquecimento). Admirado o enfermeiro insiste, e pergunta: "porque o senhor vem vê-la todos os dias se ela não se lembra de quem o senhor é?" A experiência havia capacitado o idoso a responder com sabedoria: "meu jovem, eu amo a minha esposa, mesmo que ela não se lembre disto. Entretanto, não procuro mais o reconhecimento da minha dedicação por ela, mas demonstrar a minha gratidão por ela. Não a amo por causa da sua limitação mental, mas sofro por causa disto; porém, a amo por tudo o que ela foi, e fez e significa para mim! Ela não é um peso em minha vida. Venho todos os dias porque sinto saudades dela, mesmo estando ao seu lado. Quando jovem, prometi que estaria ao seu lado até que a morte nos separasse."

19 maio 2007

Maldições hereditárias ou pecado pessoal?

Há alguns anos o meio evangélico têm se contaminado com uma perniciosa doutrina. Este ensino diz que: "apesar de você ter Jesus como o seu Salvador, e ser salvo, é possível que existam maldições hereditárias, ou seja, maldições por causa dos pecados de algum antepassado que não tenham sido perdoados, e que conseqüentemente, ainda recaem sobre a sua vida". Então, com esta doutrina se conclui que "por isso, você não é abençoado, não prosperá, e por causa disso você tem doenças e males que não consegue se livrar, apesar de ser salvo". Usam como base bíblica, geralmente, a passagem em que Deus declara que "visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem" (Êx 20:5). A Bíblia mal interpretada é a mãe das heresias! Esta ameaça pronunciada por Deus se refere aos que não eram salvos, e permaneciam na idolatria, desprezando ao único Deus vivo e verdadeiro. O Senhor não está declarando que apesar de convertidos Ele ainda assim persistirá em amaldiçoar por causa dos pecados dos pais! A maldição é para aqueles que aborrecem ao Senhor, e não sobre os que o amam; porque sobre os que amam o Senhor, a misericórdia perdurará até mil gerações! (Keil & Delitzsch, Biblical Commentary on the Old Testament, pp. 117-118).

É verdade que alguns textos nas Escrituras declaram que o pecado dos pais têm influência sobre a vida dos seus filhos (Lv 26:39; Is 55:7; Jr 16:11; Dn 9:16; Am 7:17). Mas, isto deve ser bem entendido, pois não é uma referência à maldição hereditária, mas à persistência dos filhos de não abandonar os pecados dos pais. Sendo fiéis ao contexto histórico de toda a narrativa, perceberemos que estas passagens são exortações ao arrependimento, porque a punição era por pecados que tiveram origem nos pais, ou antepassados mais remotos, mas eram pecados ainda perpetuados e praticados por eles mesmos. Nisto percebemos que o cultivo duma cultura familiar corrompida por vícios, idolatria e imoralidades, pecados que são cometidos em família, ensinados pelos pais aos filhos trará a ausência das bençãos pactuais de Deus, mas, cada um será responsável por si, e enquanto não houver verdadeiro arrependimento não haverá transformação.

Desde o Antigo Testamento esta idéia se fazia presente no meio do povo de Israel. O profeta Ezequiel denuncia o pecado do povo por acreditar "que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram?" (Ez 18:2). Entretanto, após a repreensão segue a intrução do Senhor dizendo: "tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá (Ez 18:3-4). A argumentação do profeta continua em todo o contexto posterior, deixando bem claro que cada um é responsável pelos seus próprios pecados, e não será o filho punido por causa do pai, nem o pai por causa do filho (versos 5-22).

Os discípulos de Cristo necessitaram ser corrigidos deste erro. Numa certa ocasião encontraram um jovem cego de nascença, e questionaram: "mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?" (Jo 9:2). A redundante resposta de Jesus fechou o assunto, ao dizer que: "nem ele pecou, nem os seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus" (vs. 3). Os males físicos e temporais são instrumentos da providência de Deus, para que a Sua glória se manifeste no meio do Seu povo escolhido, e assim, a Sua vontade se torne conhecida (Jo:9:35-39; Rm 8:28).

Quando os verdadeiros crentes caem em pecado, mesmo pecados graves e escandalosos, eles não são abandonados por Deus. Deus nunca desiste deles (Rm 8:31-39). Como um Pai restaura os seus filhos, os disciplina “porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos”(Hb 12:6, ARA). O apóstolo Paulo afirma esta mesma verdade dizendo que “quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo” (1 Co 11:32). É possível cair em pecado, mas é impossível cair da graça de Deus. O teólogo inglês J.I. Packer declara que "às vezes, os regenerados apostatam e caem em grave pecado. Mas nisto eles agem fora de seu caráter, violentam sua própria nova natureza e fazem-se profundamente miseráveis, até que finalmente buscam e encontram sua restauração à vida de retidão. Ao rever sua falta, ela lhes parece ter sido loucura."[Teologia Concisa, p. 224]. O pecado é corrigido individualmente.

Como individualmente pecamos, também somos chamados ao arrependimento! Não posso me arrepender por outra pessoa; entretanto, devo interceder por ela, se ela estiver viva. Não é possível pedir perdão pelos pecados dos meus filhos, nem irmãos, pais, avós ou qualquer outro antepassado. Pecado é confessado, e somente é perdoado pessoalmente. A Bíblia diz que as bençãos da Aliança acompanharão os nossos filhos, pois eles são filhos da promessa. Se você é filho de Deus, você é co-herdeiro com Cristo Jesus do amor de Deus (Rm 8:16-17), e esta é uma promessa para os seus filhos (At 2:39). Mas a Palavra de Deus não ensina que os nossos pecados serão cobrados dos nossos descendentes. Deus haveria de puní-los por uma irresponsabilidade nossa? A doutrina da maldição hereditária nega tanto a suficiência de Cristo, em perdoar graciosamente os nossos pecados, como a fidelidade de Deus em cumprir as Suas promessas.

Recomendo para uma leitura posterior:
1. David Powlison, Confrontos de Poder (Editora Cultura Cristã).
2. Augustus Nicodemus Lopes, Batalha Espiritual (Editora Cultura Cristã).

12 maio 2007

A responsabilidade dos pais

Muitos pais dão muito aos seus filhos, menos a si mesmos. A vida pós-moderna é cheia de atividades e compromissos. Quanto mais lutamos para ter tempo, mais nos afundamos em serviços e assumimos outras responsabilidades. A nossa ausência do lar não pode ser recompensada com presentes. A presença dos pais na vida da criança é um presente insubstituível! A falta de atenção gera carência, que provavelmente produzirá problemas futuros. Entretanto, podemos conversar e organizar o nosso tempo, e um período na semana para desfrutarmos com toda a família. Além do domingo, que é o Dia do Senhor, que passamos em família, precisamos tirar um período para atividades com/para a família.

Muitos pais se preocupam em garantir aos seus filhos o melhor estudo possível. Entretanto, a melhor educação para a vida é omitida. O erudito pastor presbiteriano Donald G. Barnhouse disse que "é muito maior negligência dos pais deixar uma criança crescer sem Cristo do que deixá-la crescer analfabeta." As crianças têm mais necessidade de modelos do que de críticos. Por isso, os pais necessitam pelas suas vidas demonstrar como eles devem amar ao Senhor Jesus. Ensina-se a fazer, fazendo. Geralmente, os pais se preocupam em ensinar, ou pagam para que alguém eduque os seus filhos, como eles podem ganhar dinheiro e serem bem sucedidos nesta sociedade competitiva. Mas, ignoram, ou esquecem de que dinheiro não é sinônimo de felicidade. Devemos preparar os nossos filhos para que saibam viver na sociedade, tenham o seu sustento honesto, formem as suas famílias, sejam cidadãos exemplares, e que em tudo isto tenham o temor de Deus regendo a sua vida. Sem Cristo não há educação aprovada por Deus.

Há pouca esperança para as crianças educadas de maneira ímpia. Um lar onde tudo é permitido é um lar onde não se ama o suficiente para se exercer a autoridade conferida por Cristo. Pais cristãos não podem impor sobre os seus filhos a crueldade de permitir-lhes fazerem tudo o que quiserem. Pois, um dos maiores meios de graça na vida de uma criança é o cumprimento bíblico da disciplina. As crianças precisam de amor, principalmente quando não o merecem; e, este amor é mais do que afetividade, envolve a firmeza necessária da correção para inibir o pecado que surge no pequeno coração da criança. Tudo o que fizermos hoje no temor do Senhor, no futuro eles saberão que o fizemos por amor a eles.

05 maio 2007

Vida cristã em família

Este é o mês do lar. Durante este período teremos uma série de meditações acerca da família cristã. Estas reflexões abordarão dificuldades que os lares passam, e virtudes que necessitam ser cultivadas.

Podemos iniciar com a simples pergunta: o que é família? Consideremos primeiro que o dinheiro pode edificar uma casa, mas é necessário amor para fazer dela um lar. Porque o lar não é um edifício, mas uma estrutura de relacionamentos. Não podemos ignorar que maridos providenciam bens para as suas esposas, mas não nutrem as suas carências; que muitos pais dão de tudo aos seus filhos, menos a si mesmos. O relacionamento que nutre um lar não é de desconfiança e amargura, mas o temor do Senhor e o amor. A família é formada por um grupo de pessoas que vivem um vínculo de interdependência mútua, que nutrem, cuidam, preocupam-se, e amam com vigor existencial.

Mas, não estamos falando de simples famílias. Elas têm um adjetivo: são cristãs! O que as torna diferentes? Podemos mencionar algumas virtudes que as distinguem: primeiro, a presença de Cristo reinando no lar; segundo, o temor do Senhor; terceiro, o uso da Palavra de Deus na tomada de decisões; quarto, a prática contínua da oração. Nenhum culto a Deus tem valor, se entra em contradição com a vida no lar. A experiência tem comprovado que a marca registrada do hipócrita é ser um cristão em todo lugar, menos dentro de casa. O melhor teste para um cristão santificado está naquilo que a sua família diz sobre ele.

28 abril 2007

Orando por não cristãos

Pouco se ouve nas intercessões dos cristãos a oração por não crentes. Às vezes, ela ocorre de forma generalizada, ou senão por alguma necessidade de saúde, ou problema familiar específico. Mas, raramente se ora para que Deus atue na causa dos problemas dos não crentes. Esta meditação tem a finalidade de refletir acerca de alguns motivos que devemos nos empenhar para interceder por aqueles que não são convertidos.

Devemos orar para que Deus freie os seus impulsos pecaminosos. Muito mais importante do que orar pela saúde física é rogar para que Deus cure a enfermidade espiritual. Aqueles que ainda não têm Jesus como o Senhor de suas vidas, que não experimentaram existencialmente um arrependimento verdadeiro, nem confiam em Cristo como o seu salvador pessoal, infelizmente permanecem escravos do pecado e inimigos de Deus (Ef 2:2-3). Eles não estão apenas espiritualmente doentes, mas mortos (Ef 2:1). O pecado gera muito problema, por isso, não resolve orar apenas pela conseqüência, se não atacarmos primeiramente a causa. A ação de Deus tem que ser primeiramente no coração, e não apenas nas necessidades do dia a dia.

É necessário orar para que o ímpio não nos prejudique. Existem pessoas que quando entram na nossa vida fazem um arrazo. Podem até mesmo nos deixar emocionalmente doentes! Por isso, a Escritura nos ordena que abençoemos aqueles que nos perseguem (Rm 12:14). Neste momento precisamos ser sinceros, e avaliar o nosso coração e perguntar-nos se não necessitamos orar por nós mesmos, para que depois sejamos capazes de orar pelos nossos opressores. Devemos amá-los, e embora seja possível que não sintamos afeto por eles, por causa da ofensa, é necessário, agir com amor, mesmo quando não sentimos o amor! A oração é um ato de amor. Há pessoas que se fazem insuportáveis, e conseguem atrair o ódio sobre si, por causa de atitudes perversas e insensatas. Mas, como servos de Cristo não podemos permitir que tais sentimentos nos dominem. Entretanto, isto somente é possível quando começamos a orar por aqueles que nos perseguem! É verdade que o nosso soberano Senhor coloca pessoas para nos oprimir com o propósito de experimentarmos quão consolador é o Seu amor em nós, e transformador na vida do ímpio.

Precisamos orar para que Deus tenha misericórdia deles. Eles não sabem orar por si mesmos! Necessitam de alguém que tenha intimidade com Deus, o faça. Você que experimenta a maravilhosa graça do Senhor deve suplicar para que Cristo possa extender a sua misericórdia sobre as suas vidas também. Geralmente quando algum ímpio nos faz mal, logo pensamos em pedir a justiça de Deus sobre a vida deles! O nosso redentor sendo crucificado, orou pelos seus executores (Lc 23:34).
Se Deus atender positivamente a nossa oração, então, eles poderão orar por si mesmos, e, também orar por nós!

19 abril 2007

Orare et labutare

Oração não é entregar-se à ociosidade. Existe uma errônea idéia de que se orarmos e entregarmos a Deus o que estamos pedindo, então podemos cruzar os braços e descansar! É claro que quando oramos devemos entregar-nos para que o nosso Senhor Jesus cuide de todas as nossas ansiedades. Todavia, a soberania de Deus não anula a responsabilidade humana.

Neemias organizou o povo quando percebeu estar sendo ameaçado pela conspiração de Sambalá e Tobias. A sua organização envolvia o projeto de reedificação dos muros de Jerusalém e uma defesa contra o ataque dos adversários. A Escritura menciona que "ajuntaram-se todos ali de comum acordo para virem atacar Jerusalém e suscitar confusão ali. Porém, nós oramos ao nosso Deus e, como proteção, pusemos guarda contra eles, de dia e de noite" (Ne 4:8-9). A sabedoria que Deus concedeu a Neemias o levou a reconhecer que Deus estava no controle de tudo, mas, apesar disto eles não se fizeram negligentes. Não pararam a construção, nem baixaram a guarda contra os seus inimigos, pelo contrário, tornaram-se mais cautelosos ainda, sob a direção do Senhor.

Se você não estiver disposto a esforçar-se por aquilo que pede, como pode esperar que Deus o faça? Como você pode esperar que o Senhor lhe abençoe se você for um irresponsável? Agindo com negligência nos teus afazeres? Vivendo com omissão nos teus deveres? Como posso pedir que Deus converta muitas pessoas se não abro a boca, e não testemunho do evangelho? Como posso orar por boas notas, ou aprovação num teste ou concurso, se não me dedico a estudar? Deus não abençoa o erro, mesmo que seja com sinceridade. Não adianta orar e confiar que Deus pode abençoar, se você não quer se comprometer. Aquilo que é tua responsabilidade, Ele não irá realizar!

Sabemos que tudo é pela graça de Deus, não merecemos nada dEle! Alguém disse: oração exige orar e ação! Mas, não esqueçamos de que o nosso labor é obediência e não mérito pessoal. Por isso, novamente podemos citar João Calvino: orare et labutare, ou seja, ore e se esforce!

12 abril 2007

Orando em nome de Cristo

Os crentes no final das suas orações têm o costume de encerrar declarando: em nome de Jesus, amém. É correto que seja assim, pois o próprio Senhor nos instruiu que pedíssemos em seu nome (Jo 14:13-14). O puritano inglês Thomas Watson declarou que “orar em nome de Cristo, não é apenas mencionar o Seu nome na oração, mas esperar e confiar em Seus méritos” (The Ten Commandments, 240). Se pensarmos no nome de Jesus apenas como uma palavra mágica para garantir o sucesso à nossa oração estaremos blasfemando ao misturar superstição com o santo nome do nosso redentor.

O Catecismo Maior de Westminster declara que “orar em nome de Cristo é, em obediência ao seu mandamento e com confiança nas suas promessas, pedir a misericórdia por amor dele; não por mera menção do seu nome, porém derivando o nosso ânimo para orar e a nossa coragem, força e esperança de sermos aceitos, em oração, por Cristo e sua mediação” (CMW, perg./resp. 180). Então, somente teremos acesso às bençãos do Pai, por meio de Jesus, porque Ele é o mediador da nova Aliança. Ele está diante do Pai, e por nós intercede eficazmente, garantindo a providência para todas as nossas necessidades nesta presente vida.

Não temos outro intercessor, nem podemos suplicar para que Maria, a mãe de Cristo, rogue por nós pecadores. Somente Cristo é Deus; apenas Ele sofreu e obedeceu perfeitamente ao Pai; Ele é o único que morreu e ressuscitou em nosso favor; ninguém além dEle sabe o que é sofrer intensivamente a punição no lugar de milhares de pecadores; suficientemente Ele tem todo o poder no céu e na terra, e pode atender as nossas reais necessidades. Por isso, Lucas declara que “não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4:12).

Ao orar “em nome de Jesus” não estamos sozinhos. Por causa dos nossos pecados somos incapazes de nos apresentarmos diante do Pai. Ele suplica ao Pai, por nós, como se estivesse pedindo para Si mesmo. Sabemos que o Pai não nega nada ao amado Filho. Quando usamos o nome de Jesus Cristo, em nossas orações, não estamos apenas cumprindo um ritual, mas de fato, suplicamos para que o nosso Senhor faça Sua a nossa oração!

29 março 2007

Orar no Espírito

A verdadeira oração é realizada no Espírito. Orar no Espírito não é falar em outras línguas, ou ter uma experiência de êxtase emocional. Mas, orar no Espírito significa orar conscientemente, em nome de Cristo, capacitado e dirigido pelo Espírito Santo a encontrar a vontade do Pai. Não é uma nova revelação, mas a iluminação espiritual necessária que nos dá o entendimento e convicção da vontade de Deus específica para um assunto.

O que é necessário para que realmente possamos orar no Espírito? Primeiro, a humildade é indispensável. O próprio Espírito Santo nunca toma à frente do Pai e do Filho. Ele exalta Cristo e glorifica o Pai, mas em nenhum lugar da Escritura exige glória para Si mesmo. Ele é glorificado pela sua divindade e a Sua participação nas obras da Trindade. Se ele sendo Deus não se exalta, não podemos orar diferente do modo como o Espírito atua. O nosso orgulho faz com a nossa voz soe diferente da intercessão do Espírito!

Em segundo lugar, para orar no Espírito é necessário que supliquemos por discernimento. Precisamos examinar as intenções do nosso coração, se o que estamos pedindo realmente é algo nascido na motivação de glorificar a Deus. É preciso discernir se não é algo que está comprometido com o erro, e que conseqüentemente causará escândalo. Se não entendermos o que estamos pedindo, podemos correr o perigo de fazer uma petição tola, imatura e inconseqüente. Não podemos abrir a boca ou liberar os pensamentos para solicitar a Deus o primeiro anseio que surge em nosso coração! Precisamos medir, pesar e avaliar se o nosso pedido é digno de ser colocado sobre o santo altar de Deus, e se ela não ofenderá o sacerdócio de Cristo. Deus não atende nenhum pedido que não coopere para o nosso bem, nem que deixe de glorificá-Lo (Rm 8:28).

Por último, para orar no Espírito é indispensável que desejemos ser cheios do Espírito. Por causa da grande confusão no meio evangélico este é outro assunto difícil de definir. A plenitude do Espírito é um processo que perdurará toda a nossa vida cristã. Ela não ocorre numa única experiência. Ninguém é tão pleno que não necessite mais ser cheio. Quanto mais bebemos do Espírito, mais sede teremos da Sua ação. Então, a crucial questão é como ser cheio do Espírito? A resposta inicia, no fato de precisarmos amadurecer o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5:22-23, NVI). Somos enchidos conforme o fruto amadurece em nós! Somos dominados pelo Espírito e não pela carnalidade (Gl 5:16-21; Ef 5:18-19). Ser cheio do Espírito é quando o Espírito de Deus domina todas áreas da nossa vida com a Sua Palavra, nos quebrantando com a Sua poderosa presença, convencendo-nos profundamente dos nossos pecados, amadurecendo em nós o Seu fruto, e conduzindo-nos para a dependência na suficiência de Cristo, para a exclusiva glória do Pai.

A oração feita no Espírito não é um privilégio de alguns. Todos os salvos podem e devem aprender orar no Espírito. Todos estes têm dons do Espírito. Pelo Espírito Santo cada crente é batizado no Corpo de Cristo e todos são capacitados a orar por serem sacerdotes no Reino de Deus (1 Co 12:12-13; 1 Pe 2:9). Em Cristo, todos têm livre acesso ao trono da graça. Todos os verdadeiros salvos têm a habitação pactual do Espírito, que intercede eficazmente e apresenta a nossa necessidade diante do Pai (Rm 8:27). Se a tua oração não for no Espírito, então, ela não é orada pelo Espírito, nem aceita pelo Pai.

O que cremos sobre casamento misto?

"Nesta proibição inclui-se também o matrimônio, visto que ele é um laço que pode envolver homens e mulheres num consenso de impiedade. ...