Exposição devocional do Catecismo de Heidelberg - Q/R 6

Catecismo de Heidelberg – Pergunta 6. Mas Deus criou o homem tão mau e perverso?
R. Não, Deus criou o homem bom(1) e à sua imagem,(2) isto é, em verdadeira justiça e santidade, para conhecer corretamente a Deus seu Criador, amá-Lo de todo o coração e viver com Ele em eterna felicidade, para louvá-Lo e glorificá-Lo(3).
(1) Gn 1:31. (2) Gn 1:26,27. (3) 2Co 3:18; Ef 4:24; Cl 3:10.

Deus criou o homem maduro, perfeito e santo. Adão não nasceu, cresceu, nem amadureceu, porque ele foi criado adulto fisicamente e em todas as suas capacidades mentais, emocionais e volitivas. Ele estava pronto para cumprir aos mandatos do Pacto das Obras, conforme Deus firmou com ele no Jardim do Éden. Ele era perfeito porque não havia nenhuma disfunção, defeito ou desarmonia em seu corpo, nem dele com a criação. Tudo se relacionava harmonicamente. E, ele era santo, isto é, não havia pecado nele, nem inclinação para pecar. A sua vontade era cumprir a boa vontade de Deus, e o seu prazer era glorificar ao Senhor. Antes de comer do fruto proibido o nosso primeiro pai obedecia, perfeitamente, tudo o que Deus havia ordenado.

Adão foi criado à imagem de Deus. A imagem de Deus é espiritual, essencial e funcional. Os três elementos espirituais desta imagem no homem era o conhecimento perfeito de Deus, a justiça e a santidade. Em outras palavras, Adão conhecia perfeita e suficientemente à Deus, tudo o que ele era e fazia refletia justiça e mérito diante de Deus, e a sua vida e ações se revelavam em pureza moral. O nosso primeiro pai era capacitado pelo que ele era, e pelo o que nele estava, de cumprir perfeitamente o Pacto das Obras. Todavia, quando Adão pecou, ele perdeu o elemento espiritual da imagem de Deus. O Pacto de Obras foi quebrado, a comunhão espiritual rompida, a maldição de morte sentenciada e a inimizade declarada. Ele se tornou morto espiritualmente por perder o elemento espiritual da imagem de Deus, e isso corrompeu os elementos essencial e funcional desta imagem.

A imagem essencial é o que faz dele humano. A capacidade intelectual, emocional e vontade, bem como a sua autoconsciência, as suas relações afetivas e o exercício da vontade constituem o ser humano em sua identidade. Estas capacidades nos colocam acima de toda a criação, e nos capacitam a usufruir de tudo o que Deus criou para o nosso bem, e para motivar-nos a glorifica-lo. Mas por causa da perda do elemento espiritual, a personalidade foi totalmente afetada no coração. Isso significa que os nossos pensamentos, emoções e vontades estão prejudicados em seu nascedouro. A distorção pecaminosa do que é o ser humano, nos tornou menos humanos. A incapacidade de conhecer a Deus corretamente, a amargura, depressão, o orgulho e toda disfunção em nós, bem como a indisposição de amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos, resulta dos efeitos do pecado sobre a nossa humanidade original em Adão.

O pecado também perverteu a imagem funcional. Adão era capaz de cumprir os mandatos do Pacto das Obras. Deus lhe ordenou que cultivasse e dominasse sobre a criação, e multiplicasse enchendo a terra com a sua descendência. O que ele é está afetado pelo pecado, e o que ele faz revela o poder desse pecado nele. Embora o mandato cultural é parcialmente cumprido, ele perde a sua correta motivação de amar a Deus, e desfaz a virtude e o seu objetivo perfeito de glorificar a Deus. Toda a cultura sem a graça está sob os efeitos do pecado. Do mesmo modo o mandato social também é prejudicado pela queda, pois as relações sociais, desde a constituição da família ao surgimento dos grandes impérios, perverteram-se em poligamia, adultérios, infanticídio, genocídio, racismo, guerras, e diversas manifestações de amargura. E, por fim, o mandato espiritual, também recebeu a nódoa do pecado. Por isso, Paulo disse que “tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis” (Rm 1.22-23). O ser humano desaprendeu como adorar a Deus e, ao mesmo tempo, rejeita o modelo de adoração determinado por Deus. Agora, sob queda, o homem se tornou num contínuo quebrador do pacto.

Deus não criou o homem mau, mas o pecado o tornou um violentador do Pacto das Obras. A descendência de Adão continua pecando à semelhança dele, e sendo incapaz de amar e glorificar a Deus, como o Senhor exige que o homem o faça perfeitamente.

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