Exposição devocional do Catecismo de Heidelberg - Q/R 3

Catecismo de Heidelberg – Pergunta 3. Como você conhece sua miséria?
R. Pela lei de Deus. (Rm 3:20)

A lei divina é parte da Palavra de Deus. A Escritura Sagrada se divide literariamente em Antigo e Novo Testamento; embora, também, possa ser estruturada historicamente em antigo e novo pacto; mas, em sua natureza revelada Palavra de Deus ela é lei e evangelho. Por isso, desde Gênesis até Apocalipse, toda a Bíblia contém intrinsicamente, tanto lei como evangelho. É errôneo pensar que o AT é somente lei, enquanto o NT é somente evangelho, pois vemos em ambos os testamentos, tanto a lei como a presença do evangelho, e ambos os elementos formam a Palavra de Deus.

A lei de Deus é didaticamente classificada em civil, cerimonial e moral. O uso “civil” da lei existiu para orientar Israel, como antigo povo da aliança, e cessou quando eles deixaram de ser uma nação autônoma. O uso “cerimonial” da lei teve a finalidade de apontar para Cristo (Rm 10.4). Assim, Cristo obedeceu, perfeitamente, todas as exigências da lei, inclusive o seu cerimonialismo, e a satisfez completamente. Ele foi “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29) e Deus revela com a sua morte a gravidade dos nossos pecados, bem como o poder da sua expiação para nos perdoar de toda a iniquidade e impureza. Mas a lei tem o uso e é essencialmente moral. O seu sumário está nos Dez Mandamentos e têm uso perpétuo para todos os homens, e em especial, para a ética cristã. Eles revelam o modo perfeito como Deus requer que os seus filhos vivam diante dele.

A lei de Deus revela três verdades básicas: 1. Quem Ele é; 2. O perfeito relacionamento de obediência que Ele requer de nós; 3. A nossa incapacidade de produzir virtude e justiça. A absoluta perfeição de Deus contrasta com a nossa horrenda pecaminosidade e absoluta incapacidade de vivermos a santidade, pois, até em nossas virtudes, boas obras e justiça somos essencialmente poluídos pelo pecado. Sem a lei de Deus não temos um princípio norteador para o que é certo ou errado. A ausência da lei resulta em relativismo moral. Mas ainda que conheçamos a lei, carecemos que Deus nos ilumine, converta, convença e capacite a obedecê-la com a motivação amorosa, de acordo com o seu significado revelado, e com o objetivo de glorifica-lo.

A lei de Deus é parte do Pacto das Obras. Este pacto foi firmado com os nossos primeiros pais, Adão e Eva, antes da queda no pecado. Eles deveriam obedecer a vontade de Deus em sua ordenança de cultivar, dominar e povoar a terra, mas também de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Eles eram equipados com capacidades morais para cumprir perfeitamente. Entretanto, ao desobedecer, trouxeram a maldição e a transmissão do pecado para toda a sua descendência. A mesma lei que daria mérito para que pudessem comer, posteriormente, da árvore da vida, agora traz a merecida condenação da desobediência e rebeldia.

A condenação é declarada com base na desobediência da lei de Deus. Sabemos que “o pecado é a transgressão da lei” (1Jo 3.4) e que "o salário do pecado é a morte" (Rm 6.23). Essa conduta rebelde em relação à lei de Deus é resultado da presença do poder do pecado em nós. As ordenanças de Deus revelam o quanto, por natureza, somos ímpios, porque rejeitamos a santidade em nosso coração. A santificação testifica que somos filhos de Deus. Esta é a postura dos herdeiros da aliança em confiar e obedecer a Palavra de Deus. A lei revela a nossa a nossa miséria, denuncia a gravidade da nossa ofensa e sentencia a condenação. Mas ela está de mãos dadas com o evangelho quando aponta para Cristo como o nosso substituto pactual, o Cordeiro que morreu em nosso lugar, e satisfez a lei, Ele sofreu a nossa miséria, a fim de, graciosamente nos dar a comunhão da vida eterna.

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