Exposição devocional do Catecismo de Heidelberg - Q/R 9

Catecismo de Heidelberg – Pergunta 9. Então, Deus exige do homem, em sua lei, o que este não pode cumprir. Isto não é injusto?
R. Não, pois Deus criou o homem de tal maneira que este pudesse cumprir a lei (1). O homem, porém, sob instigação do diabo e por sua própria rebeldia, privou a si mesmo e a todos os seus descendentes destes dons (Gn 1.27; Ef 4.24; Gn 3.4-6; Rm 5.12; 1Tm 2.13-14).

Deus criou o homem capaz de cumprir perfeitamente a lei. Zacharias Ursinus, um dos autores do Catecismo de Heidelberg, disse que se Deus “requer o que é impossível somente é injusto se, primeiro, não deu a habilidade para cumprir o que ele exigiu; segundo, a menos que o homem cobiçou, e por si mesmo, consentiu escravizar-se nesta inabilidade; e, por último, a menos que o exigido não fosse possível ao homem obedecer, sendo de tal natureza, planejado levá-lo a reconhecer e desprezar a sua incapacidade. Mas Deus criou o homem à sua própria imagem, deu-lhe a habilidade de prestar-lhe obediência, a qual justamente requer dele em sua lei” [The Commentary on Heidelberg Catechism, p. 66]. Agostinho resumiu esta verdade ao dizer “dá-me aquilo que ordenas, ordena-me aquilo que queres.” Deus não exige o que ele mesmo não dá, e sabemos disto porque o apóstolo Paulo nos revela que “não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele lhes providenciará um escape, para que o possam suportar” (1Co 10:13). Ele exige que vençamos as tentações, porque nenhuma delas é mais forte do que o poder que ele nos dá, e se buscarmos a ele também nos dará livramento.

O diabo incentiva o despertamento da cobiça humana. Sabemos que Satanás nos oferece o que o nosso coração deseja. Ele não nos obriga a pecar. O inimigo de nossas almas é nosso tentador, mas nunca o autor do nosso pecado. Mas, ele nos conhece bem, e sabe das nossas fraquezas, e como nos iludir, bem como despertar desejos pecaminosos em nosso coração. Por isso, a Bíblia nos ordena resistir ao diabo e, consequentemente, ele fugirá de nós (Tg 4.7).

Os nossos primeiros pais se rebelaram contra a Deus. Eles estavam providos em Deus e deveriam estar satisfeitos nele, todavia, o diabo os convenceu de que havia algo maior que Deus lhes omitiu, e que eles deveriam experimentar o fruto proibido para que pudessem ser iguais à Deus. Na verdade, Deus os havia criado à sua imagem. Eles refletiam os atributos comunicáveis de Deus, e receberam autoridade para dominar sobre toda a criação. Entretanto, eles não queriam refletir a glória de Deus, mas queriam ter uma glória própria. O descontentamento foi despertado nos seus corações para que desejassem algo que é exclusivo em Deus.

Adão e Eva perderam parcialmente a imagem de Deus. Alguns dos atributos morais são fundamentais na imagem de Deus, ou seja, o conhecimento, a justiça e a santidade. Estas perfeições manifestavam a comunhão de Deus com o homem, sem elas o ser humano está separado de Deus (Is 59.2) e debaixo de sua divina ira (Jo 3.36). No entanto, além de sofrer o prejuízo moral e dano espiritual, os nossos primeiros pais tiveram os resquícios da imagem de Deus distorcida. O ser humano ainda preserva parte da imagem de Deus, mas ela está tão afetada pelo mal moral, que o pecado o animaliza tornando-o menos humano (Sl 32.9 e Sl 73.21-22).

Deus continua sendo justo em exigir obediência da lei moral apesar de todo o estrago do pecado. Todo ser humano deve adorar a Deus e amar ao próximo como a si mesmo (Mt 22.37-40) e cumprir todas as exigências da lei de Deus (Êx 20.1-17; Mt 5.17-19). Entretanto, lembremos que ao obedecer a lei não produzimos mérito para sermos aceitos diante de Deus, porque Cristo fez isso em nosso lugar e a nosso favor. Obedecemos porque somos habilitados amar à Deus (Rm 5.5), e cumprimos o que Ele exige de nós para agradar ao nosso Pai celestial (Jo 14.15).

Comentários

Obra da Graça disse…
Acabei de ler.
Muito bom.
Como um Pastor Reformado, agradeço imensamente a contribuição do Pastor Ewerton Tokashiki ao oferecer comentários e aplicações sobre o Catecismo de Heidelberg.
Obra da Graça disse…
Acabei de ler.
Muito bom.
Como um Pastor Reformado, agradeço imensamente a contribuição do Pastor Ewerton Tokashiki ao oferecer comentários e aplicações sobre o Catecismo de Heidelberg.

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