Calvinistas amargos?

Não entendo como pessoas inteligentes e tão capazes, que abençoadas por Deus com o entendimento correto do Seu evangelho, podem se tornar tão amargas? Tudo bem que devemos crer firme e inegociavelmente nas Escrituras Sagradas, e disto absolutamente não abro mão, mas cuspir maribondo quando alguém discorda, creio ser exagero! Honestamente falando não vejo motivo de corroer o opositor numa ácida verborragia.

Você que me lê deve pensar qual o motivo deste artigo?! Pois bem, estive pensando como pessoas que conhecem a graça que é imerecida, devido à nossa pecaminosidade; que é irresistível, devido à soberania divina; que é terna, devido ao amor eletivo de Deus; não entendo como estas pessoas que conhecem as Doutrinas da Graça, e vivem os benefícios do eterno decreto de Deus, em Cristo, conseguem viver um orgulhoso isolamento? Com facilidade agridem até mesmo os confrades. É uma incoerência absurda entre o sistema de pensamento e prática! B.B. Warfield esclarece que o
calvinista é o homem que vê Deus por trás de todo fenômeno, e, em tudo o que sucede, reconhece a mão de Deus operando a sua vontade; o calvinista, em todas as atividades de sua vida adota uma atitude permanente de oração; o calvinista se entrega completamente à graça de Deus e, exclui qualquer traço de autosuficiência em toda a obra da salvação.[1]

Sei que há adiáforas que nos separam. Certa feita pensei em escrever um artigo sobre os pontos de discordância entre os calvinistas. Mas, fui tomado por um discernimento mais agudo da minha motivação, que me levou a perceber a implicação antecipada do meu perverso intento. Percebi que estaria apenas contribuindo para aumentar as lacunas que existem, e de nada aproveitaria, senão para enfatizar aos adversários do Calvinismo que há pontos menores que nos dividem; e, também estaria fortalecendo animosidades desnecessárias. Se alguém me pedir pra, pelo menos, mencionar em esboço que pretendia escrever, responderei: arreda Satanás!

Não acredito que como calvinista preciso esmagar os meus adversários teológicos. John Newton, calvinista e escritor do famoso hino Amazing Grace, certa vez escreveu que
quanto ao seu oponente, eu desejo que, antes mesmo que você coloque a sua pena sobre o papel contra ele, e durante todo o tempo em que estiver preparando a sua resposta, possa você entregá-la, por meio de sincera oração, ao ensino e à benção do Senhor. Esta prática terá uma tendência direta de levar o seu coração e amá-lo, bem como de ter compaixão dele. Tal disposição terá uma boa influência sobre cada página que você escrever. [2]

Conheço alguns calvinistas que são amargos de doer. Talvez, seja realidade na experiência de alguns dentre nós [afinal também sou calvinista] o modo como Ralph W. Emerson jocosa, mas equivocadamente, descreveu: conheci um médico brincalhão que descobriu o credo no canal biliar e costumava afirmar que se houvesse uma doença no fígado, o homem havia se tornado um calvinista [3]. Não estou convencido em dizer que calvinistas amargos, sejam calvinistas no sentido completo do termo, ou que realmente ensinem coerentemente sobre a soberana graça de Deus, pois a sua postura evidencia que perderam um aspecto essencial da graça de Deus, ou seja, a ternura.[4]

Nota:
[1] B.B. Warfield, Calvin as a Theologian and Calvinism Today, p. 24.
[2] John Newton, "On Controversy" in: Works of John Newton, vol. 1, págs. 268-269.
[3] Alister McGrath, A vida de João Calvino , pág. 153.
[4] A amargura fecundada pela ofensa é uma disposição pecaminosa que constantemente tem assediado o meu coração. Somente o entendimento e a mortificação deste pecado, pela graça de Deus, leva a desfrutar duma percepção correta da graça de Deus e viver a sua ternura.

Comentários

Filipe Machado disse…
Olá, Ewerton.

Ainda não conhecia seu blog, parabéns pelos tópicos. A postagem de hoje foi bela e em tempo opotuníssimo!
Escrevi ontem sobre a perspectiva que o crente deve ter da aposentadoria.

Um abraço! 2timoteo316.blogspot.com
Charles Melo disse…
Ewerton,

Essas palavras me ajudaram a trazer à mente que o propósito de estudarmos a doutrina bíblica a fundo não é alimentar o orgulho intelectual, mas motivar ainda mais a piedade e a santa devoção, cheia de temor, ao Deus soberano que reina absoluto!
Obrigado!
Excelente postagem. Realmente tem um montão de Calvinistas amargurados por aí à fora. Conviduo para visitar nosso blog:
www.filosofiacalvinista.blogspot.com
Raimundo Aguiar disse…
Excelente comentário Pr. Ewerton,
Ultimamente, tenho me perguntado, como posso ser um calvinista se estou aprendendo o calvinismo, a idéia de conhecer apalavra de forma simples e objetiva, porque o nosso Deus é absoluto e isto tenho vivenciado de forma bem simples, porque olho para o futuro, sem me prender no saudosismo.
Mas voltando ao Calvinista amargurado, é sempre aquela pessoa que volta o seu pensamento para o passado, tentando viver o passado no seu presente, mesmo conhecendo e recebendo de Deus todas as bênçãos, por meio da graça - graça imerecida, ele na verdade é um armeniano tentando viver um calvinista.
Rildo Costa disse…
Confesso que eu também tento entender como alguns conhecem as Doutrinas da Graça e possam ser amargos.
Quando eu as conheci (e ainda estou conhecendo), minha reação foi de espanto: Como pode Deus ter o controle de tudo assim? O que sobre para eu fazer?
Confesso que essa doutrina quase me levou a inatividade espiritual. Orar para quê? Se Deus já decretou, o que adianta orar?
Mas ouvi duas frases que me alertou. Uma, de John MacArthur, que diz o seguinte: "Nunca permita que sua teologia destrua sua vida de oração". A outra, de C. S. Lewis, posta assim: "Deus decretou certos fatos que só acontecerão com uma oração que ele também decretou, na eternidade passada e que se realiza no tempo".
Calvinistas amargos permitem que a teologia os guiem para a uma vida cristã árida.
Bom dia!!
Maravilhoso seu blog, te convido a conhecer o meu e me seguir também
nascidadocoracaodedeus.blogspot.com
Na paz
Anônimo disse…
Querido colega,
muito bom texto.
Os calvinistas amargos, são assim, porque colocam a tradição teológica no mesmo patamar e algumas vezes acima das Escrituras. Precisam ler e reler Mt 15, para serem vacinados contra o vírus letal da supervalorização da tradição em detrimento dos mandamentos de Deus, dentre os quais se destaca o amor ao próximo.
Abs
Em Cristo, nosso comum Salvador e Senhor,
Fábio Henrique www.fe-argumento.blogspot.com
Rinaldo Berbert disse…
Olá Ewerton! Tive o privilégio de ouvir pessoalmente o Dr. Gerard van groningen quando fazia o Seminário em BH, ainda na 1ª IPB. Sua ênfase quanto à família da aliança sempre foi arrebatadora! Querido irmão, parabéns pelo Blog com uma ênfase tão oportuna e necessária! Este post em específico, nos desafia a viver com mais alegria e leveza as maravilhas da fé reformada. Muito bom! Criei um blog voltado para a família, o qual leva o nome de meu primeiro livro publicado pela Editora Ultimato: amar outra vez - http://rinaldoberbert.blogspot.com/
Grande abraço! Rinaldo
Esther disse…
Parabéns pelo conteúdo do blog.
Jovem Calvinista disse…
Excelente texto, Pastor!

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